Lançado em 1997, contém poemas alvesianos músicados por vários compositores com interpretação de Andréa Daltro.
Produzido pela Academia Bahiana de Letras e atualmente fora de catálogo, o Centro de Documentação SONARE coloca-o disponível para ouvir e copiar.
Há um artigo escrito pelo Prof. Manoel Veiga sobre as modinhas que pode ser acessado por aqui.
Lembre de fornecer os créditos e o local desta página se usar o material encontrado aqui.
Para ouvir as faixas basta clicar no apontador referente à faixa desejada. Para descarregar o arquivo clique com o botão direito do ponteiro e salve o arquivo.
Título da faixa | Poemas | Número da faixa |
01. O Gondoleiro do Amor. (Salvador Fábregas / Castro Alves)
|
Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
Do Gondoleiro do amor.
Teu sorriso é uma aurora
Que o horizonte enrubesceu,
-Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu;
Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.
Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua:
Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?
Teu amor na treva é um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa nas calmarias,
É abrigo no tufão
Por isso eu te amo, querida,
Quer no prazer, quer na dor...
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.
(Seleção de texto: Andréa Daltro)
| Faixa 01
|
02. Vamos Meu Anjo Fugindo. (Anônimo / Castro Alves)
|
Vamos meu anjo, fugindo,
A todos sempre sorrindo,
Bem longe nos ocultar...
Como boêmios errantes,
Alegres e delirantes,
Por toda a parte a vagar.
Uma casinha bonita,
Lá na mata que se agita
Do vento ao mole soprar,
Com as flores secas da selva
Como lençol verde da relva
Oh! Quanto havemos de amar!...
E à noite no mesmo leito
Reclinada no meu peito,
Hei de ouvir os cantos teus.
A cada estrofe bonita
No teu seio, que se agita,
Terás cem beijos, por Deus!
Vamos, meu anjo, fugindo,
A todos sempre sorrindo
Bem longe nos ocultar.
Como boêmios errantes
Que repetem delirantes:
"Pra ser feliz basta amar"!
(Seleção de texto: Andréa Daltro)
| Faixa 02
|
03. Mocidade e Morte. (Anônimo / Castro Alves)
|
Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.
Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lágea fria.
Morrer... quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! O seio da mulher é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas.
Minh’alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas...
E a mesma voz repete-me terrível,
Com gargalhar sarcástico: impossível!
Eu sinto em mim o borbulhar do gênio
Vejo além um futuro radiante: Avante!
Brada-me o talento n'alma
E o eco ao longe me repete avante!
Sou o cipreste qu'inda mesmo florido,
Sombra de morte no ramal encerra,
Vivo que vaga sobre o chão da morte,
Morto entre os vivos a vagar na terra.
Adeus! Arrasta-me uma voz sombria,
Já me foge a razão na noite fria!...
(Seleção de texto: Andréa Daltro)
| Faixa 03
|
04. Maria. (Ricardo Bordini / Castro Alves)
|
Onde vais à tardezinha,
Mucama tão bonitinha,
Morena flor do sertão?
A grama um beijo te furta
Por baixo da saia curta,
Que a perna te esconde em vão...
Mimosa flor das escravas!
O bando das rolas bravas
Voou com medo de ti!...
Levas hoje algum segredo...
Pois te voltaste com medo
Ao grito do bem-te-vi!
Serão amores deveras?
Ah! Quem dessas primaveras
Pudesse a flor apanhar!
E contigo, ao tom d'aragem,
Sonhar na rede selvagem...
À sombra do azul palmar!
Bem feliz quem na viola
Te ouvisse a moda espanhola
Da lua ao frouxo clarão...
Com a luz dos astros por círios,
Por leito um leito de lírios...
E por tenda a solidão!
| Faixa 04
|
05. Meu Segredo. (Luciano Bahia / Castro Alves)
|
Eu tenho dentro d'alma o meu segredo
Guardado como a pérola do mar;
Oculto ao mundo como a flor silvestre
Lá no vale escondido a vicejar.
Meu segredo? É o soluço d'alma triste
Que conta sua dor à brisa errante.
É o pulsar tresloucado de meu peito
A repetir um nome delirante.
Que ventura! Aos teus lânguidos olhares,
Beber louco de amor seiva de vida...
Sorver perfume em teus cabelos negros,
Sentir a alma de si mesmo esquecida...
É meu segredo!
Seu nome? Não digo... Tenho medo.
(Seleção de texto: Cleise Mendes)
| Faixa 05
|
06. As Duas Flores. (Xisto Bahia / Castro Alves) (1a. estrofe: arranjo de Ernst Widmer)
|
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor.
| Faixa 06
|
07. Adeus. (Anônimo / Castro Alves)
|
Adeus! P'ra sempre adeus! A voz dos ventos
Chama por mim batendo contra as fragas.
Eu vou partir... em breve o oceano
Vai lançar entre nós milhões de vagas...
Eu vim cantando a mocidade e os sonhos,
Eu vim cantando f'licidade e a glória!
Ai! primavera que fugiu p'ra sempre,
Amor escárnio!... Lutulenta história!
Bem vês! Eu volto. Como vou tão rico...
Que risos n'alma! que lauréis na frente...
Tenho por c'roa a palidez da morte,
Fez-se um cadáver o poeta ardente!
Sinto que vou morrer! Posso, portanto,
A verdade dizer-te santa e nua:
Não quero mais teu amor! Porém minh'alma
Aqui, além, mais longe, é sempre tua.
(Seleção de texto: Andréa Daltro)
| Faixa 07
|
08. Minha Maria é Bonita (Tirana). (popular do Norte / Castro Alves)
|
"Minha Maria é bonita,
Tão bonita assim não há;
O beija-flor quando passa
Julga ver o manacá.
"Minha Maria é morena,
Como as tardes de verão;
Tem as tranças da palmeira
Quando sopra a viração.
"Trovadores da floresta!
Não digam a ninguém, não!...
Que Maria é a baunilha
Que me prende o coração.
"Companheiros! O meu peito
Era um ninho sem senhor;
Hoje tem um passarinho
P'ra cantar o seu amor.
| Faixa 08
|
09. O Coração. (Anônimo / Castro Alves)
|
O coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.
O outro voa em mais virentes balsas,
Pousa de um riso na rubente flor.
Vive do mel a que se chama crenças,
Vive do aroma que se diz amor.
| Faixa 09
|
10. Murmúrios da Tarde. (Anônimo / Castro Alves)
|
Ontem à tarde, quando o sol morria,
A natureza era um poema santo,
De cada moita a escuridão saía,
De cada gruta rebentava um canto,
Ontem à tarde, quando o sol morria.
E tu no entanto no jardim vagavas,
Rosa de amor, celestial Maria...
Ai! Como esquiva sobre o chão pisavas,
Ai! Como alegre a tua boca ria...
E tu no entanto no jardim vagavas.
E eu, que escutava o conversar das flores,
Ouvi que a rosa murmurava ardente:
"Colhe-me, ó virgem, não terei mais dores,
Guarda-me, ó bela, no teu seio quente..."
E eu escutava o conversar das flores.
"Leva-me! leva-me, ó gentil Maria!"
Também então eu murmurei cismando...
"Minh'alma é rosa, que a geada esfria...
Dá-lhe em teus seios um asilo brando...
"Leva-me! leva-me, ó gentil Maria!..."
(Seleção de texto: Andréa Daltro)
| Faixa 10
|
11. Pensamento de Amor. (Anônimo / Castro Alves)
|
Ó pálida madona de meus sonhos,
Doce filha dos cerros de Engadi!...
Vem inspirar os cantos do poeta,
Rosa branca da lira de Davi!
Todo o amor que em meu peito repousava,
Como o orvalho das noites ao relento,
A teu seio elevou-se, como as névoas,
Que se perdem no azul do firmamento.
À tarde, quando chegas à janela,
A trança solta, onde suspira o vento,
Minha alma te contempla de joelhos...
A teus pés vai gemer meu pensamento.
Oh! Diz'-me, diz'-me, que ainda posso um dia
De teus lábios beber o mel dos céus;
Que eu te direi, mulher dos meus amores:
Amar-te ainda é melhor do que ser Deus!
(Seleção de texto: Andréa Daltro)
| Faixa 11
|
12. Coração do Violeiro. (João Teixeira Guimarães / Castro Alves) João Teixeira Guimarães é João Pernambuco.
|
Passa, ó vento das campinas,
Leva a canção do tropeiro.
Meu coração 'stá deserto,
'Stá deserto o mundo inteiro.
Quem viu a minha senhora
Dona do meu coração?
Chora, chora na viola,
Violeiro do sertão.
Ela foi-se ao pôr da tarde
Como as gaivotas do rio,
Como os orvalhos que descem
Da noite num beijo frio,
O cauã canta bem triste
Mais triste é o meu coração.
Chora, chora na viola,
Violeiro do sertão.
(Seleção de texto: Andréa Daltro)
| Faixa 12
|
13. Eu Sou Como a Garça Triste (Tragédia no Lar). (Anônimo / Castro Alves) (1a. estrofe: arranjo de Ernst Widmer)
|
"Eu sou como a garça triste"
Que mora à beira do rio,
"As orvalhadas da noite"
Me fazem tremer de frio.
"Me fazem tremer de frio"
Como os juncos da lagoa;
"Feliz da araponga errante"
Que é livre, que livre voa.
"Que é livre, que livre voa"
Para as bandas do seu ninho,
"E nas braúnas à tarde"
Canta longe do caminho.
"Canta longe do caminho."
Por onde o vaqueiro trilha,
"Se quer descansar as asas"
Tem a palmeira, a baunilha.
"Tem a palmeira, a baunilha,"
Tem o brejo, a lavadeira,
"Tem as campinas, as flores,"
Tem a relva, a trepadeira,
"Tem a relva, a trepadeira,"
Todas têm os seus amores,
"Eu não tenho mãe nem filhos,"
Nem irmão, nem lar, nem flores"
(Seleção de texto: Andréa Daltro)
| Faixa 13
|
14. A Cruz da Estrada (O Poeta e o Caminheiro). (Anônimo / Castro Alves)
|
Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.
Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.
É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.
Não precisa de ti. O gaturamo
Geme por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo
Povoa, soluçando a solidão.
Quando à noite o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.
Caminheiro, que passas pela estrada
Seguindo pelo rumo do sertão
Quando vires a cruz abandonada
Deixa-a em paz dormir na solidão.
| Faixa 14
|